quinta-feira, 5 de abril de 2007

Uma outra libertadores

Você vai ler e ouvir aos montes nos próximos meses que a Copa Toyota Libertadores da América é especial porque “nela que se vive a rivalidade sul-americana”, porque “cada jogo é uma guerra” e porque “os brasileiros jogam contra tudo e contra todos, enfrentando times que falam o mesmo idioma dos árbitros”.Tudo verdade. Mas soa como brincadeira ao lembrar do passado da competição, quando socos, cotoveladas e pedradas valiam mais do que a habilidade de bons times.Não à toa, em cinco ocasiões nos anos 70 o campeão europeu negou-se a encarar o representante sul-americano na Copa Intercontinental. O motivo: temer quem eles abertamente chamavam de “selvagens”. O pior: em 1975 e 1978, o confronto nem foi realizado.A Libertadores contemporânea tem espasmos de violência, sim. Mas as confusões hoje são exceção, não regra, como até a década de 80.Brigas generalizadas como a do Palmeiras x Cerro Porteño, no ano passado, eram vistas quase semanalmente nas décadas de 60, 70 e 80.Confusões envolvendo torcida, como no último Corinthians x River Plate, antes não contavam com a repressão da polícia.Coincidência ou não, os times brasileiros ganharam oito títulos nos últimos 15 anos, no “período de paz” da competição. Nas 32 edições pré-1992, foram só cinco taças.A era bélica da Copa Toyota Libertadores hoje é arquivo porque 1 – a evolução da TV fez com que as imagens agora sirvam de prova para punir clubes, jogadores ou torcedores, algo que não ocorria antes com as precárias transmissões; 2 – o mesmo avanço tecnológico impossibilita que árbitros omissos ou mal-intencionados safem-se de duros ganchos; 3 – os estádios hoje são mais seguros do que antes, quando, ao contrário de agora, poucas normas eram exigidas para a homologação de “ratoeiras”; 4 – regras do jogo foram mudadas para coibir a violência; 5 – os antidopings são mais rigorosos e freqüentes, evitando um “excesso de excitação” dos atletas.O Brasil está representado na Libertadores pelo atual campeão e vice -Internacional e São Paulo, respectivamente- e por Grêmio, Flamengo, Santos e Paraná Clube.Dos seis, só o estreante Paraná não guarda momentos de aflição no campeonato. Os outros cinco já sofreram nas mãos e pés de argentinos, uruguaios e chilenos, como a Invicto mostra agora, com um “ranking” das batalhas históricas pelas quais os hoje participantes brasileiros passaram.Recordar é viver. E aprender. Para que o futebol seja estritamente aquilo que sempre se dispôs a ser: um esporte para agregar pessoas.

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